PERIODICIDADE DA REVISTA ESPÍRITA
SUAS RELAÇÕES COM OS OUTROS JORNAIS ESPECIAIS
Sempre nos tem expresso o desejo de ver a Revista aparecer quinzenalmente ou semanalmente, mesmo à custa do aumento da assinatura. Somos muito sensível a esse testemunho de simpatia, mas é impossível, pelo menos até nova ordem, mudar o nosso modo de publicidade. O primeiro motivo está na multiplicidade dos trabalhos conseqüentes de nossa posição, cuja extensão é difícil de imaginar. Estamos rigorosamente com a verdade, dizendo que não há para nós um só dia de repouso absoluto e que, apesar de toda a nossa atividade, é-nos materialmente impossível bastar a tudo. Duplicando, ou quadruplicando a nossa publicação mensal, compreendemos que a maioria dos assinantes teria tempo de a ler; mas, para nós, isto seria em prejuízo dos trabalhos mais importantes que nos resta fazer.
O segundo motivo está na natureza mesma de nossa Revista, que é menos um jornal do que o complemento e o desenvolvimento de nossas obras doutrinárias. A forma periódica nos permite nela introduzir mais variedade do que num livro, e registrar as atualidades. Aí vêm grupar-se, conforme as circunstâncias e a oportunidade, os fatos mais interessantes, as refutações, as instruções dos Espíritos; nela se desenham as diferentes fases do progresso da ciência espírita; nela, enfim, vêm ensaiar-se, sob forma dubitativa, as teorias novas que não podem ser aceitas senão depois de recebida a sanção do controle universal.
Numa palavra, a Revista é uma obra pessoal, cuja responsabilidade assumimos inteiramente e pela qual não devemos, nem queremos ser entravado por nenhuma vontade estranha; é concebida segundo um plano determinado para concorrer ao objetivo que devemos atingir. Transformada em uma folha hebdomadária, perderia seu caráter essencial. A mesma natureza de nossos trabalhos opõe-se a que entremos em detalhes das preocupações e das vicissitudes do jornalismo. Eis por que a Revista espírita deve ficar o que ela é. Nós continuaremos enquanto sua existência, sob esta forma, nos for demonstrada necessária. Aliás, mudando o seu modo de publicação, teríamos o ar de querer concorrência aos novos jornais publicados sobre a matéria, o que não poderia entrar em nossas idéias.
Por sua periodicidade mais freqüente, esses jornais preenchem a lacuna assinalada; pela diversidade dos assuntos que podem tratar, e que entram no seu quadro, pelo número dos Espíritas esclarecidos e de talento que nelas podem fazer ouvir a sua voz, enfim pela difusão da idéia sob diferentes formas, podem prestar grandes serviços à causa. São outros tantos campeões que militam pela doutrina, cujos órgãos temos prazer de ver multiplicando. Apoiaremos sempre os que marcharem francamente numa via útil, que não se fizerem nem instrumentos de grupelhos, nem de ambições pessoais, aqueles, enfim, que se dirigirem segundo os grandes princípios da moral espírita. Seremos felizes de os encorajar e os ajudar com nossos conselhos, se julgarem necessários. Mas aí se limita a nossa cooperação.
Declaramos não ter solidariedade material com nenhum, sem exceção. Nenhum, pois, é publicado por nós, nem sob nosso patrocínio efetivo. Deixamos a cada um a responsabilidade de suas publicações. Quando os pedidos de assinatura por sua conta são dirigidos à direção da Revista, nós lhas remetemos a título de boa fraternidade, sem nisso ver qualquer interesse, nem mesmo a comissão normal dos intermediários, que não aceitaríamos, ainda que nos fosse oferecida.
Julgamos ter explicado o estado das coisas, para edificação dos que pensam que certos jornais Espíritas estão ligados por interesse com a nossa Revista. Sem dúvida todos têm um interesse comum, porque tendem para o mesmo objetivo que nós. A esse título, todos se devem benevolência recíproca, pois do contrário dariam um desmentido a sua qualificação de jornais Espíritas, mas cada um atua dentro da esfera de sua atividade e de seus meios, e sob sua própria responsabilidade. A doutrina só terá a ganhar em dignidade e em crédito com sua independência, ao passo que o acordo de vistas e de princípios que existe entre eles e a Revista nada teria de admirável da parte dos que emanassem da mesma fonte. Se outra publicação periódica se fizesse por nossa iniciativa e com o nosso concurso efetivo, nós o diríamos abertamente. (Revista Espírita de novembro de 1864).
Allan Kardec